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Documentos e textos

Metalíricas & Ontopoemas

 

Documentação e textos relacionados ao projeto PSICONÁUTICOS ACÚSTICO: Metalíricas & Ontopoemas.

A IDEIA E IMPRESSÕES DO ACÚSTICO

por André Pereira

 

No começo do ano, em março, conversando com o Gean Nunes sobre as atividades que o Teatro experimental de Alta Floresta desenvolveria no ano de 2015, ele me fez a proposta de um show no espaço do TEAF. Eu fiquei muito feliz, não seria a primeira vez que os PSICONÁUTICOS iriam tocar nesse local, mas agora poderíamos fazer uma sessão exclusivamente dedicada ao nosso repertório. Teríamos uma noite à nossa disposição e poderíamos fazer aquilo que bem entendêssemos. O Renan e eu já estávamos a algum tempo tocando rotineiramente. Fizéramos duas apresentações anteriores, uma com covers do Raul Seixas e autorais no festival "TOCA RAUL & muito mais..." e outra no "Grito Rock AF, 2015". O entrosamento estáva rolando muito bem e seria uma oportunidade de aprofundarmos ainda mais os arranjos do som. Topei na hora a parada e corri pra dar o toque no Renan que também se empolgou com o lance.   

 

Voltando aos antecedentes da apresentação. Durante aquele período fui conversando com o pessoal do TEAF, fiquei de entregar um roteiro prévio do que iria rolar. Mas não consegui, embora eu discutisse sempre as ideias com o pessoal, principalmente com o Ronaldo Adriano. Aliás, o Ronaldo foi peça-chave de toda essa aventura maravilhosa. Nos deu todo suporte durante o processo de pré-produção e em todos os momentos se mostrou presente. Além disso, registrou tudo em vídeo depois de ter feito muito trampo pra preparar o local. Coisas bem cansativas, como ajustar todas as luzes e projetor, equipamentos que ficam no alto e dão grande trabalho para manusear. No momento da apresentação tudo estava empecavelmente pronto. Era só tocar, em um ambiente agradável e cheio de pessoas incríveis e amistosas. Estavam receptivas de verdade para ouvir um som que na verdade não conheciam.

Pronto. Já tínhamos um esqueleto e uma boa desculpa para segurarmos o público por mais de uma hora e meia. Na verdade, ao final da execução do projeto, o cronômetro do gravador de som havia registrado duas horas de evento. Um detalhe, é que no dia da apresentação, depois de montado o equipamento de som, enquanto o Gean Nunes nos apresentava ao público, percebi que o gravador, embora ligado não estava gravando. Fui correndo acionar o rec. O cartão estava cheio. O Gean entretendo o público e eu desesperado tentando formatar o cartão de memória, que naquele momento estava demorando mais que o normal. Por um momento, achei que seríamos anunciados e eu não conseguiria apertar aquela porra do rec. Mas, em poucos segundos o cartão foi descarregado e na sequência fomos solicitados. Consegui dar o rec e a gravação foi feita desde o início.

Fizemos a escolha do repertório durante os ensaios, tocando grande parte do que tínhamos de disponível e dalí extraindo o que funcionava melhor. Como a ideia inicial era repassar um pouco os trabalhos dos psiconáuticos em seus vários períodos, resgatei algumas canções muito antigas, como a canção "Homens relógios (1996) para mesclarmos com coisas bem recentes, como a "Recupere sua mente" (2014). Vinte e cinco músicas dariam um bom panorama de nosso repertório e do desenvolvimento de nosso trabalho. Os textos escolhidos seriam lidos por mim como introdução ao espetáculo e depois, de forma intercalada, entre os blocos de canções que conteriam cinco canções cada.   

Decidimos de cara que a ideia seria tocar apenas as canções autorais do grupo. Nada de covers. Deixaríamos isso para uma outra oportunidade. Pensamos que um tempo de 80 minutos para um show de inéditas seria o suficiente para entreter o público sem sobrecarregá-lo. Pensando no ambiente em que seria executado o repertório, lembramos que o local é reservado às artes e principalmente ao teatro. Então, decidimos dar maior destaque a palavra. Seria interessante acrescentarmos alguns textos entre as canções. Estávamos sem muito tempo e condições. Não era prudente dificultar muito a coisa. Quanto menos complexa fosse a parada e mais funcional, melhor. Esfriamos um pouco a cabeça. Havia alguns textos escritos sobre coisas que se encaixavam com o contexto do nosso repertório de canções. Sentei durante duas noites e adaptei alguns textos que tínhamos em mãos. Eram poemas, pequenas crônicas e pensamentos que serviriam como liga entre os blocos musicais.

Os arranjos foram feitos por minha bela Fernanda Oliveira, que sempre me oferecia uma ideia interessante para preparamos o local. Primeiro pensamos naquele esquema de bar. Estava na cara que isso iria rolar. Eu sempre acho que o som que tocamos tem haver com boteco, e aí sempre penso em algo desse tipo. Então, já tínhamos o mote do bar, acrescentamos o vermelho para contrastar com tantas cores frias que encontraríamos no local, começando pelas mesas e cadeiras azuis e pela parede cinza. Aquele contraste ficaria legal - um vermelho sangue contrastando com um azul forte e um cinza marcante. Um leve ar de cabaré se instaurou, mas tudo continuava muito suave. A grande ideia que minha querida companheira teve foi a dos cheiros. Por que não pensar em algo sinestésico e acrescentar cheiros ao ambiente como o da salsa e o hortelã? Então, decoramos garrafinhas de cerveja com as ervas aromáticas. As pessoas gostaram tanto que muitas levaram como lembrança.

A surpresa maior foi o público. Embora nós já tivéssemos acionado a imprensa. Na última hora, durante toda aquela correria, suspendemos todo tipo de divulgação, exceto pelas redes sociais. E mesmo sem panfletagem, rádio ou televisão, um público bacaníssimo compareceu. A receptividade foi outra coisa que nos sensibilizou, além do sincero carinho da galera. Muita gente veio nos parabenizar e comentar sobre aquilo que havia presenciado. Quanta coisa boa a gente pode ouvir. E muitas coisas enriquecedoras mesmo. Senti que a gente tinha comunicado algo. Que havia rolado um diálogo verdadeiro com aquele público que nos via pela primeira vez. E que estavam ali justamente para nos conhecer. Foi demais aquilo tudo.

A luz foi feita pela competente Angélica Muller. Que mesmo eu não entregando o roteiro final, não me decaptou. De qualquer forma, eu já havia alertado que seria legal fazermos um tipo de jazz ou imporviso, tanto em relação à luz, como em relação às filmagens; mas que fosse um improviso feito a partir de algumas considerações e a fixação de alguns pontos básicos. Na questão da luz, o lance era brincar com coisas simples, como alternância de cores quentes e frias, acompanhando os humores das canções e a dinâmica de movimento da luz que acompanhasse o movimento dos músicos e da música. Quanto às câmeras, dois pontos distintos e fixos dariam conta do recado, somados a tomadas do público e de outros detalhes pertinentes. Nosso palco era bem minimalista e pequeno. Não havia muito segredo pra fazer a coisa acontecer e tudo correu muito bem.

O Renan pegou o espírito da coisa e as músicas de forma muito leve e certeira. Em pouco tempo já estávamos bem introsados e a troca de ideias tem sido um grande combustível para todas os novos projetos que estão sendo realizados. Posso dizer que o processo de atuação dos PSICONÁUTICOS está revigorado e atuante. Todos os parceiros que nos ajudaram a concluir mais essa etapa são fundamentais para a manutenção de nosso ânimo e fé no ofício da criação. Fazer arte nesse país é muito complicado, e ainda mais fazer arte autoral, quando quem não tem nome ou alguma projeção é obrigado toda vez a provar sua capacidade e competência. As imagens feitas pelo nosso querido irmão Victor Tarumã ilustram fielmente toda a troca que esse evento possibilitou e toda boa energia canalizada ali. Uma experiência fantástica e muito prazerosa. Mais uma vez agradecemos toda essa equipe maravilhosa do TEAF que nos auxiliou e os demais que agregaram seus esforços para que o evento fosse um sucesso. Valeu! 

A troca musical entre músicos e público foi mágica. 

Um palco minimalista e extremamente funcional.

Público receptivo e atento.

Sons, luzes e cheiros. Belos e cheirosos arranjos complementaram o cenário.

Angélica Muller trabalhando a luz.

Uma experiência marcante. Além de estética, existencial, acima de tudo. Uma bela viagem comungada com amigos.

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